A SAGA DO NÚMERO 1
Há
muito se fala que, desde Juan Manuel Fangio nos
anos 50, nenhum piloto de Fórmula 1 conseguiu ser
campeão por dois anos consecutivos guiando por
equipes diferentes. Isto significa também que,
desde que a organização do campeonato, em 1974,
atribuiu o uso do número 1 ao carro do piloto
campeão do ano anterior, ninguém conseguiu
conquistar o título mundial carregando em sua
carenagem uma honra que foi obtida em outra
equipe.
Niki Lauda - 1978
![](imagens_index/78laudafp1.jpg)
Ao final de 1977, já bicampeão e brigado com a
cúpula da Ferrari, Niki Lauda deu adeus à equipe
italiana antes mesmo do final da temporada,
abdicando inclusive de disputar as corridas finais
no Canadá e no Japão. O austríaco havia aceito um
convite de Bernie Ecclestone para levar o número 1
para a Brabham, que contava com motores da Alfa
Romeo e pretendia voltar a brigar pelo título, o
que não acontecia desde os anos 60.
A temporada não foi de todo ruim, com Lauda
vencendo duas provas e terminando o campeonato em
quarto lugar. Nem de longe houve a possibilidade
de disputar a ponta da tabela, mas só o fato do
austríaco ter recolocado a equipe no rol das
vencedoras, quebrando um jejum de três anos sem
vitória, já pôde ser entendido como um feito e
tanto. No ano seguinte, porém, houve uma queda
acentuada de rendimento e Lauda, desmotivado,
decidiu num rompante pendurar o capacete durante
os treinos do GP do Canadá. Curiosamente, dias
depois de uma vitória em Imola, numa etapa
extra-campeonato. Nas corridas que valiam,
entretanto, o então bicampeão conseguiu no máximo
um quarto lugar em Monza. O casamento
Lauda-Brabham terminou de forma repentina e
melancólica.
Nelson Piquet - 1988
![](imagens_index/88piquetvy5.jpg)
Dez anos depois do pioneiro Lauda, Nelson Piquet,
seu ex-companheiro de Brabham, foi o segundo
piloto a trocar a equipe campeã por uma promessa.
Insatisfeito com a Williams, onde conquistou seu
terceiro título mundial em 1987 depois de uma luta
feroz com Nigel Mansell, o brasileiro aceitou uma
proposta milionária da Lotus para preencher a vaga
de Ayrton Senna, que havia se transferido para a
McLaren.
O pacote tinha tudo para dar certo. A equipe vinha
de bons campeonatos com Senna nos anos anteriores
e tinha os motores Honda, os melhores da categoria
na época. Imaginava-se que a McLaren, que começava
a trabalhar com os japonses naquele ano, fosse
sofrer problemas de adaptação e que a Lotus, por
já ter um relacionamento com a Honda desde o ano
anterior, levaria alguma vantagem. Mas tudo deu
errado. O Lotus 100T, obra de Gerard Doucarouge,
foi um dos piores carros da história da equipe
inglesa. Muita gente, inclusive, não acredita até
hoje que alguém possa ter projetado um modelo tão
ruim sem querer, dando margem a boatos de que
teria errado no projeto propositalmente para
satisfazer interesses de outras partes.
O fato é que Piquet não teve a mínima chance no
campeonato de 1988, terminando a temporada em
sexto lugar, com a Lotus empatada com a insossa
Arrows no mundial de construtores. Com a série de
maus resultados, a Honda retirou-se da equipe no
final da temporada e Piquet viveu no ano seguinte
seus piores momentos de toda a carreira, deixando
inclusive de se classificar para a largada do GP
da Bélgica. Findo o contrato, o brasileiro pulou
para a Benetton em 1990, enquanto a Lotus seguia
firme rumo à falência, que ocorreria em janeiro de
1995.
Alain Prost - 1990
![](imagens_index/90prostru9.jpg)
Na metade da polêmica temporada de 1989, na qual
seus duelos com Ayrton Senna haviam atingido seu
momento mais explosivo, Alain Prost convocou uma
entrevista coletiva e anunciou que havia pedido
demissão da McLaren. Semanas depois, anunciou um
acordo com a Ferrari. Mesmo assim, conquistou seu
terceiro título mundial, beneficiado por erros
infantis de Senna, pela cumplicidade de Jean-Marie
Balestre (então presidente da FISA) e pela
política interna da McLaren, que em momento algum
admitiu favorecer um piloto, ainda que fosse um
demissionário.
Assim, em 1990 o francês estreava na Ferrari,
tentanto tirar os italianos de um jejum que então
era de 11 anos sem título. Prost, sem dúvidas,
conduziu a Ferrari a uma evolução impressionante,
deu à equipe sua 100ª vitória na Fórmula 1 e
brigou ferozmente com Senna pelo título mundial.
No GP do Japão, entretanto, foi abalroado pelo
brasileiro na largada e viu suas chances
escorrerem pelos dedos. E foi a partir dali que
sua relação com a equipe começou a azedar. O
francês tentou usar a imprensa para fazer política
interna, expediente do qual já tinha se utilizado
na Renault e na McLaren, mas o tiro saiu pela
culatra. A imprensa italiana não atendeu a seus
interesses como fizeram outras anteriormente e
Prost acabou demonizado pelos jornais, pela
torcida e pela direção da Ferrari. Os fracos
resultados de 1991 colaboraram para o negro
cenário, que culminou numa demissão sumária depois
que o francês comparou seu carro a um caminhão ao
final do GP de Suzuka. Em seu lugar, na Austrália,
correu o piloto de testes Gianni Morbidelli. A era
Prost, apesar do começo promissor, terminou de
forma deprimente. Assim como Lauda na Brabham e
Piquet na Lotus.
Michael Schumacher - 1996
![](imagens_index/96schumidb4.jpg)
Convencido por Bernie Ecclestone, que estava
cansado de vê-lo ganhando tudo na Benetton,
Michael Schumacher aceitou o desafio de tirar a
Ferrari da fila, assim como fez Alain Prost.
Mudou-se para a equipe em fins de 1995, recém
bicampeão do mundo, projetando um ano de transição
em 1996, para brigar pelo título na temporada
seguinte. E o resultado foi acima do esperado.
Embora não tenha conseguido bater as Williams, que
estavam nitidamente um nível acima, Schumacher
conduziu a Ferrari a três vitórias na temporada,
sendo uma delas em Monza. O alemão caiu nas graças
dos tifosi e o resto é história.
O caso de sucesso Schumacher-Ferrari pode ser
considerado uma rara exceção na história dos
campeões que mudaram de equipe. Se o título não
veio no primeiro ano é porque realmente não era
esperado. E apesar de ter demorado até 2000 para
acontecer, assim que aconteceu deu início à mais
vitoriosa parceria da história da Fórmula 1.
Damon Hill - 1997
![](imagens_index/97hillvh4.jpg)
Apesar de campeão pela Williams em 1996, Damon
Hill nunca foi uma unanimidade, nem dentro da
própria equipe. Não por acaso, foi demitido antes
mesmo de garantir o título, no GP do Japão. Frank
Williams não aceitou pagar o que o piloto exigia
para a renovação e o dispensou, mesmo sabendo que
provavelmente terminaria o ano como campeão.
Com o mercado de pilotos para 1997 praticamente
fechado, o inglês viu-se sem muitas alternativas
para competir. Recebeu propostas de Stewart e
Jordan, mas acabou optando pelo dinheiro de Tom
Walkinshaw, que investiu na contratação do atual
campeão para trazer o número 1 para o cockpit da
mediana Arrows e, assim, arrecadar com novos
patrocínios. Deu certo. Somando o dinheiro
conseguido com o número 1 ao trazido pelo abastado
segundo piloto Pedro Paulo Diniz, a equipe pôde
investir no desenvolvimento do carro e conquistou
bons resultados. Até uma inédita vitória esteve
muito próxima no GP da Hungria, com Damon Hill
liderando até que sofresse um problema de câmbio
na última volta. Chegou em segundo lugar, algo
impensável para uma Arrows.
Ao final do ano, contudo, Hill fez as malas e
mudou-se para a Jordan, onde sabia que teria
condições técnicas muito melhores para disputar as
últimas temporadas de sua carreira.
Fernando Alonso - 2007
![](imagens_index/07alonsoyx3.jpg)
E mais uma vez isso aconteceu, Fernando Alonso não
conseguiu romper o tabu dos títulos consecutivos
por equipes distintas, saiu campeão da Renault em
2006 para tentar o tri em 2007 pela Mclaren mas o
tiro saiu pela culatra. Depois de um ano com altos
e baixos e muitas brigas dentro da equipe,
Fernando Alonso volta para a Renault, equipe que
lhe rendeu 2 títulos mundiais consecutivos em 2005
e 2006.
fFonte: Blog do Capelli |